segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Vítor Damas



Damas nasceu em Lisboa a 8 de Outubro de 1947 e aos 14 anos entrou para o Sporting, trazido por um vizinho que jogava ténis de mesa.
A posição de guarda-redes não era a ambicionada pelo jogador, que queria ser avançado, tal como Vasques e Travassos, os seus ídolos. Mas, como era o mais pequeno da «rapaziada», se quisesse jogar teria de ser a guarda-redes.

O primeiro grande jogo realizado foi contra o Benfica, quando Damas integrava a equipa de juvenis. O jogo não lhe correu bem: “nos dias anteriores todo eu era uma pilha! Quando entrei no rectângulo o estádio parecia um mundo. Veio o primeiro remate e saltei à gato para recolher o esférico, mas passou-me por baixo da barriga. Felizmente que a bola embateu no poste e ressaltou para fora. Todavia o meu nervosismo originou dois golos para os encarnados e ao segundo não pude mais. Saí debulhado em lágrimas, sentindo o peso do fracasso, para mim de dimensões imensuráveis. Porém, no ano seguinte, em 1962, já tinha vencido essas debilidades psicológicas, tudo nos correu bem e o Sporting alcançou o título nacional, vencendo, em Leiria, a Académica de forma concludente, por 5-1. Era o meu primeiro título nacional”.

Em 1968 fez o primeiro jogo para o Campeonato Nacional da I Divisão, frente ao Guimarães, onde sofreu dois golos e passou novamente a suplente de Carvalho. Quando faltavam seis jornadas para o final do Campeonato agarrou a titularidade e nunca mais a deixou.

Em 1976 foi para o Santander e por lá ficou durante cinco anos. Quando voltou a Portugal foi jogar no Vitória de Guimarães, onde Pedroto conseguiu, finalmente, trabalhar com o guarda-redes dos seus sonhos, “as pessoas já me consideravam velho com 32 anos, mas mais nove haveria de jogar. Só me posso arrepender de não ter entrado em Portugal directamente para Alvalade”.

Voltou ao Sporting como o filho pródigo, mas não conseguiu concretizar o grande sonho de ser novamente Campeão Nacional. Em 1984 integrou o grupo de 22 seleccionados que disputou e se classificou em terceiro lugar no Europeu de França. Foi suplente de Manuel Bento, o outro grande guarda-redes da sua geração.

No ano de 1986 despediu-se da selecção, com duas presenças na fase final do Campeonato do Mundo realizado no México, substituindo o lesionado Bento.
Estreara-se nesse posto 17 anos antes, em 1969, precisamente contra o México.

Vítor Damas era elegante na baliza, tudo nele era agilidade, intuição e espectáculo. Ao serviço do Sporting venceu o Campeonato Nacional em 1969/70 e em 1973/74. Conquistou três Taças de Portugal em 1970/71, 1972/73 e 1973/74. Foi 29 vezes internacional pela selecção “A”.

O seu último jogo, com 41 anos de idade, foi a 27 de Novembro de 1988, a contar para o Campeonato Nacional da 1ª divisão, no Estádio do Fontelo, em Viseu, contra o Académico local. A partida terminou empatada 2-2.

Vítor Damas terminou assim a carreira tal como a tinha iniciado, com a camisola do Sporting, que envergou por 743 vezes, facto ainda hoje não alcançado por nenhum outro jogador. Jorge Gonçalves convidou-o então para treinador adjunto de Pedro Rocha. Passou a técnico principal em Fevereiro de 1989, para regressar a treinador adjunto.

Foi treinador dos guarda-redes do plantel sénior até 1999, altura em que passou a treinador principal do então clube-satélite, Lourinhanense. Treinou a equipa B em 2001, saindo no final da época.

CURRICULUM:

Vítor Manuel Afonso Damas de Oliveira
Local de Nascimento: Lisboa
Data de Nascimento: 8 de Outubro de 1947
Início de Carreira no Sporting: 1961
Títulos conquistados ao serviço do Sporting:
2 Campeonatos Nacionais (1969/70 e 1973/74)
3 Taças de Portugal (1970/71, 1972/73 e 1973/74)
29 Internacionalizações

História:


Entrou aos 14 anos no Sporting, levado por um vizinho que jogava ténis de mesa no clube. Em 1968, destronou o histórico Carvalho e foi titular até 1976, quando saiu para os espanhóis do Racing Santander.

De regresso a Portugal, voltou ao Sporting, onde jogou até aos 41 anos! O defesa Pedro Gomes apelida-o de “ Homem aranha”.

Vítor Damas entrou no Sporting aos 14 anos e aos 15 já fora autorizado pela Direcção leonina a jogar nos juniores.

Daqui para a frente, é uma série de histórias. Aos 17, assinou o primeiro contrato profissional ( 20 contos de “luvas” e mais cinco de salário) e, aos 19, assumiu-se como séria alternativa ao histórico Carvalho. A camisola número 1 estava à sua espera e Damas não se fez rogado, tornando-se num símbolo do clube e de Portugal. Nunca um guarda-redes português merecera tanta veneração!

Melhor em campo com 5-1!

O lateral esquerdo Hilário deu-se conta da evolução de Damas.

“Acompanhei os treinos de captações, na Rua do Passadiço, com campo de basquetebol pelado. Os miúdos faziam torneios lá e o Damas foi por aí fora até ser meu colega de equipa. Lembro-me perfeitamente de um jogo na Luz, em que perdemos 5-1 ( 27 de Dezembro de 1970 ) e o Damas foi eleito o melhor em campo. Sem ele na baliza, tínhamos levado muitos mais golos. Nesse dia, ele sofreu cinco golos mas fez milagres para evitar outros tantos”.

Pedro Gomes também estava presente na Luz nessa negra tarde, como defesa direito, do lado oposto ao de Hilário. “Yashin era o Aranha Negra. Tinha elasticidade, impulsão e reflexos apuradíssimos. Era seu costume fazer defesas impossíveis. Aliás, os bons guarda-redes são aqueles que defendem as bolas de golo. Nesse jogo com o Benfica, foi ele quem evitou um resultado ainda mais dilatado. Ao ponto de ter sido eleito o melhor em campo. Pouco há a dizer quando se perde por 5-1 e quem é elogiado é o guarda-redes!”

GUARDA-REDES “ BOM DE BOLA”

Há mais. Pedro Gomes enaltece outras qualidades e alguns defeitos, com a irreverência. “Além de tudo o que ele representava na baliza, o Damas era bastante bom com os pés. Nas peladinhas que fazíamos durante a semana, notava-se uma habilidade fora do comum para um guarda-redes. Nos tempos que correm, Damas não teria qualquer dificuldade em jogar com os pés. Estava, portanto, avançado para o seu tempo. Aliás, sei que ele se apresentou como avançado nos treinos de captação do Sporting.

Como era o mais novo, lá foi para a baliza. O Sporting e Portugal ganharam um guarda-redes! De momento, numa análise rápida, não vejo no futebol português e internacional muitos guarda-redes com o perfil e características do Damas. Joguei com ele e também o treinei, na era-Toshack (84-85). Conheci-o bem e ele detestava perder. Até empatar! Uma vez, empatámos com a Académica ( 4-4, a 20 de Janeiro de 1985), em Alvalade, e ele chegou ao balneário a dizer que não queria jogar mais. ´ Diga isso ao Toshack`. Era um jogador inconstante quando as coisas não corriam bem à equipa. Tinha receio de ser cúmplice. Alguns minutos depois, falei calmamente com ele e já estava tudo bem. Foi uma irritação do momento.”

O central Venâncio jogou com Damas e recorda os momentos mais emblemáticos. “Foi um monstro na baliza. Toda gente o conhecia e o admirava. Tive o prazer de jogar com ele muitos anos e, ao início, ficava assustado quando o via a sair da baliza em direcção a nós, defesas, para nos ralhar, a trincar a língua de raiva. Mas depois habituei-me.”

Os rivais adoptam o mesmo discurso. Gomes, do FC Porto, teceu rasgados elogios a Damas. “Um dos maiores guarda-redes portugueses de todos os tempos !! Um grande amigo e uma pessoa com um feitio especial. Em relação à sua defesa, era bastante exigente com os companheiros e estava constantemente a motivá-los e a repreendê-los! Também tinha a idade, que lhe dava autoridade, pois era mais velho que todos os outros.

Era um guarda-redes bastante elegante e fazia-se notar ao pormenor. Nunca passava despercebido.”

“ O Eusébio das balizas”

Os anos 70 ficaram marcados pelos duelos entre Damas e a “ Pantera Negra”, com dois lances históricos, o primeiro deles com uma prodigiosa defesa de golpe de rins, após cabeceamento de Eusébio. Ainda hoje o comparam àquela do inglês Gardon Banks a remate de Pelé no Mundial ´70.

Nos anos 60, o Benfica sagrou-se bicampeão europeu, o Sporting venceu a Taça das Taças e a Selecção Nacional obteve um empolgante terceiro lugar no Mundial.

Duas décadas depois, os Patrícios ficaram em terceiro no Euro, enquanto o FC Porto conquistou tudo a nível internacional. Pelo meio, nos anos 70, Portugal não teve direito a títulos mas ninguém esquece a luta de gigantes entre Eusébio e Damas!

“ Nunca esquecerei a dignidade e o respeito mútuo. Damas era um senhor, um grande amigo, um grande homem e desportista de eleição. Será lembrado eternamente como um grande símbolo do futebol português.” Eusébio tem razão. Aliás, não é por acaso que Damas é conhecido como o Eusébio do Sporting ou o Eusébio das balizas.

Nas várias estórias nos duelos entre duas figuras do futebol português, há duas que sobressaem claramente: a primeira em 9 de Novembro de 69 ( 1-0 para o Sporting em Alvalade), quando Eusébio cabeceou por cima de Damas e este, numa estirada prodigiosa para canto, suscitou um clamor da multidão; a segunda em 2 de Dezembro de 73 ( 2-0 para o Benfica na Luz), quando Damas julgou que a barra tivesse devolvido um poderoso livre de Eusébio que, nessa altura, já festejava o golo, depois de a bola, isso sim, ter batido com precisão no ferro de dentro da baliza e ressaltado para as mãos do guarda-redes.

A propósito do primeiro lance, Augusto Inácio estava em Alvalade nesse dia. “Ainda era miúdo, tinha 12/ 13 anos e vi Damas fazer uma espectacular defesa com um golpe de rins e remate de Eusébio. Ao longo da minha carreira, nunca vi nada igual. Foi uma defesa impossível que colocou o estádio em delírio. Como grande senhor, Eusébio cumprimentou o Damas logo a seguir.”

Convém acrescentar que a tal defesa mereceu elogios, ao ponto de a compararem àquele do inglês Gordon Banks a cabeceamento de Pele, em pleno Mundial 70, que entrou para a história como a mais espectacular de sempre.

Quatro Fórmulas de um ídolo

Da primeira vez que saiu do Sporting, fala-se num contrato assinado com FC Porto de Pedroto. Damas foi para… Espanha ( Racing Santander). Pedroto considerou-o traídor e relegou-o para o banco, como suplente de Melo, quando o treinou em Guimarães.

Em Novembro de 1974, Portugal jogou em Wembley. Os ingleses diziam que seriam mais de cinco. A Selecção Nacional chegou a Londres para ser o bombo da festa e é verdade que foi massacrado. Mas Damas garantiu o nulo com uma memorável exibição.

Numa célebre noite de nevoeiro nas Antas ( 18 de Outubro de 1975), Gomes atira a bola às malhas laterais de Damas,. Um apanha-bolas aproveita a desorientação geral e coloca-a dentro da baliza. Alder Dante valida o golo, mas o Sporting acaba por vencer por 3-2.

Morreu a 13 de Setembro de 2003, na véspera de um Sporting – Nacional.

Curiosamente o Nacional fora o adversário da sua estreia como treinador em Fevereiro de 1989. Curiosamente, ainda, Damas, que pertencia ao painel de apostadores do jornal Expresso, preconizara 2-0 para o Sporting. Acertou!

in http://www.sportingapoio.com/noticias/destaques/damas-7-anos-de-saudade-cvideo/