quinta-feira, 4 de junho de 2009

Rock para um estádio rendido

Directo ao assunto: na noite de anteontem, os AC/DC estiveram em Lisboa e, durante duas horas, protagonizaram aquela que é, para já, a maior celebração de rock'n'roll do ano.

Mais de 45 mil pessoas encheram o Estádio de Alvalade e não consta que alguém tivesse de lá saído desiludido. A banda australiana sabe bem o que o povo quer: as canções clássicas ("Back in black", "Thunderstruck", "Hells bells" ou, entre muitas outras, "You shook me all night long") sabiamente distribuídas por um alinhamento em que também não faltaram peças mais recentes. E, claro, uma eficaz máquina de entretenimento para estádio: aparatosos ecrãs gigantes, alguma pirotecnia, um corredor a atravessar o relvado até a um pequeno palco no outro lado do estádio.

No público, abundava gente que comprara, à entrada, uns corninhos para a cabeça, vermelhos e luminosos, a piscar. Visto da bancada, o relvado parecia um campo de papoilas.

O concerto foi sempre em ambiente de festa, com uma ou outra brincadeira pelo meio. Em "The jack", por exemplo, o guitarrista Angus Young virou o traseiro à malta e durante alguns minutos ameaçou baixar os calções, perante a ansiedade do povo em ver as nádegas de um homem magricelas de 54 anos. Mas ele é o maior. E sozinho é mais do que metade do espectáculo: os dedos esculpem aqueles irresistíveis riffs de guitarra. Para mais, o homem tem resmas de pinta no seu uniforme colegial ou enquanto faz aquela dança de uma perna que saltita enquanto a outra pontapeia o ar.

Ainda que as condições sonoras nem sempre fossem as melhores - a voz de Brian Johnson, por vezes, ouvia-se mal -, o concerto teve momentos particularmente intensos, como em "TNT" ou "Let there be rock", esta com direito a solo prolongado de Angus Young no segundo palco. Tudo terminou em apoteose, já no encore, com a incontornável "Highway to hell" e a magnífica "For those about to rock".

Ainda que vagamente motoqueira e machista - fica sempre a impressão de que as mulheres são vistas como um mero pedaço de carne -, a música dos AC/DC é irresistível e eternamente adolescente.

in http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=1254159

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