sexta-feira, 10 de abril de 2009

Pedro Sousa Moraes: «Serei eu e mais dez»

RECORD - O que o faz correr para a presidência do Sporting?PEDRO SOUSA MORAES - Não tenho ambições de ser presidente do Sporting por ser presidente do Sporting. O que acontece neste momento é que estou muito preocupado com este marasmo. O Sporting Clube de Portugal precisa de soluções e precisa de soluções rápidas. Há no Sporting gente provavelmente mais válida do que eu mas que não estará disposta a fazer o sacrifício. Estou aqui e sei que a minha família não está a gostar disto...

R - Mas está claramente a dar um passo em frente na sua afirmação como candidato à presidência...
PSM - Sim, e não tenho medo de dar esse passo. Se há coisas que me marcam na vida, uma dessas coisas é o Sporting, desde pequenino que me sinto sportinguista. Quando era miúdo, enquanto os outros contavam carneirinhos para dormir, eu fazia equipas do Sporting. Vi a equipa jogar pela primeira vez quando tinha 7/8 anos e vi o Sporting ganhar, no Jamor, a final da Taça de Portugal ao Benfica, o que ainda mais satisfação me deu, pois continuo a achar que o Benfica é o grande rival do Sporting. Uma rivalidade que tem de ser saudável. Não podem acontecer coisas como as que se viram na última Taça da Liga...

R - Desagradou-o o que viu no Estádio do Algarve?
PSM - Não gostei de ver a maneira como o árbitro se justificou.

R - E como classifica a atitude de Pedro Silva?
PSM - Para quem está de fora é muito fácil falar mas só quem sente na pele as coisas é que as vive a sério. Foi uma atitude antidesportiva, não o quero desculpar, mas também não o quero condenar. Já vi atitudes muitos mais graves. Por exemplo, os jogadores do FC Porto, nos anos 80, a empurrarem o árbitro de um canto ao outro do campo. São situações que só afastam as pessoas do futebol. É verdade que há muita suspeição no futebol mas isso não pode branquear a falha de direções que não conseguem resultados e que argumentam sempre com isso. O FC Porto nos últimos 20 anos é altamente ganhador e qualquer pessoa tem que dar à palmatória e verificar que nesse período foi duas vezes campeões europeu e ganhou uma série de campeonatos. Há ali qualquer coisa que o Sporting não tem...

R - Dias da Cunha disse que o sistema tinha dois rostos: Pinto da Costa e Valentim Loureiro. É assim?
PSM - Acredito na viciação do futebol mas o Estado de Direito não está mal só no futebol. Hoje não sabemos até que ponto amanhã não estaremos envolvidos numa história de suspeição...

R - Se for presidente do Sporting, que estilo vai imprimir?
PSM - Se um dia for presidente do Sporting, serei eu a mandar...e depois arranja-se a equipa. Quem vai mandar sou eu. Qualquer equipa ganhadora tem de ter um líder forte. Se for presidente, serei eu a mandar, não haverá nem n.º 2 nem n.º 3. Não me esquecerei nunca de algumas conversas que tive com o Humberto Coelho, há vinte e tal anos, e que quando lhe perguntava quem ia jogar no dia seguinte, ele respondia sempre: 'Pedro, jogo eu e mais dez.' Portanto, quando me pergunta como irei trabalhar, se um dia for presidente do Sporting, o que lhe respondo é que serei eu e mais 10, 20 ou 30.

R - Qual é o projeto que tem para o Sporting?
PSM - Já tentei desenvolver, nomeadamente com o dr. Dias Cunha, alguns desses projetos. No essencial, penso que o Sporting deve ser gerido por uma fundação, como acontece com o Barcelona. Na sua diáspora, o Sporting pode englobar na fundação a sua academia. Temos de apostar nos PALOP e eles estão interessados nisso. Nesse aspeto, damos 10-0 ao FC Porto e 20-0 ao Benfica pois temos uma formação muito boa e uma boa academia e isso vende-se. Esta fundação não obrigaria o Sporting a entrar com capital, este virá todo de fora. Vou dar um exemplo: há uma barragem para fazer em Angola e o Sporting, através da sua fundação, pode concorrer através do seu braço empresarial a essa obra, podendo retirar grandes proveitos. O Sporting deve ser o clube que tem mais núcleos e filiais e também tem que aproveitar isto através de acordos de master franchising.

R - Integrou a lista de Abrantes Mendes no último ato eleitoral? Porquê?
PSM - Estive lá por amizade. Foi uma luta muito desigual. Por exemplo, só conseguiu ir uma vez à televisão expor as suas ideias. Mas mesmo assim ainda teve 25% dos votos e com o problema dos votos do croquete.

R - Do croquete?!
PSM - Dos velhinhos, com toda a consideração que tenho por eles, que têm mais votos que os outros. É algo de que as pessoas se queixam. É um sistema que já devia ter sido alterado para um voto por sócio. E acho que o conselho leonino é uma mordomia que também devia acabar... Há pessoas que não precisam de comprar lugar porque são sucessivamente eleitas para o conselho leonino. Acho que o meu clube tem de ser diferente e não elitista. A nossa grande diferença em relação ao Benfica é que somos um clube popular e não populista.

R - Mas não é o Sporting um clube com sangue nobre?
PSM - A verdadeira nobreza é a dedicação integral ao clube.

R - Conhece Pedro Souto?
PSM - Conheço. Temos um amigo em comum, sei que tem uma boa capacidade financeira, mas não me lembro de o ver no Sporting. Mas quem quiser ser presidente do Sporting não pode estar à procura de soluções de consenso, tem de ir para a luta. Fiquei triste quando o vi afirmar que só se candidataria no caso de Soares Franco, Ribeiro Teles e Bettencourt não se candidatarem. Fala-se que teria o apoio do dr. Roquette mas o dr. Roquette é um empresário reconhecido mas não é um líder por natureza.

R - Roquette nunca esteve à vontade como presidente do Sporting?
PSM - Acho que sim. Por exemplo, o João Rocha, com todos os defeitos que tinha, ganhou tudo. E no seu tempo ganhávamos não só no futebol como no hóquei em patins e noutras modalidades. Éramos o clube mais eclético do Mundo. O Sporting tinha referências.

R - E hoje?
PSM - Hoje não temos nada. É confrangedor ver pessoas como o professor Moniz Pereira e como a sócio n.º 1 serem utilizadas. O Sporting em vez de ser Sporting Clube de Portugal é hoje o Sporting Clube Paulo Bento. Não vejo nem o Pedro Barbosa nem o Salema Garção darem a cara, é sempre o Paulo Bento...

R - Gosta do treinador Paulo Bento?
PSM - O treinador do meu clube é sempre o melhor, tal como os jogadores. Nunca na minha vida assobiei o Sporting Clube de Portugal. Nos jogos com o Bayern, tive um pouco de vergonha e muita mágoa. Mas nesses jogos foi o descalabro, tal como nos jogos com o Real Madrid e o Barcelona... Mas não quero estar a falar muito do Paulo Bento porque não quero desestabilizar. O Sporting ainda pode ser campeão - duvido muito... - e enquanto houver esperança... A equipa está a fazer uma boa ponta final e o que todos desejamos, os verdadeiros sportinguistas, é que o Sporting ganhe sempre.

«Sporting não é uma coutada»

R - Acredita que Filipe Soares Franco não vai mesmo recandidatar-se?
PSM - Não, acho que vai fazer mais um flic-flac à retaguarda. Ele vai tomar a decisão na próxima assembleia geral e só a partir do dia 17 as coisas se vão definir a nível de candidaturas. Está toda a gente à espera que as moções a apresentar sejam aprovados. Eu acredito que não passarão e que os sócios do Sporting não vão deixar passar isto.

R - Mas o último congresso de certo modo não validou as ideias do atual presidente?
PSM - O congresso foi trabalhado precisamente para isso, é o marketing para se perpetuarem no poder. Eles não fazem marketing para angariar receitas mas para isto. O congresso serviu como pré-candidatura de Soares Franco.

R - O atual presidente e outros dirigentes têm sido muito críticos em relação à gestão de Dias da Cunha.
PSM - Dias da Cunha é um homem sério, é um grande sportinguista e pôs tudo sempre à disposição do Sporting Clube de Portugal. O dr. Dias da Cunha foi cooptado pelo dr. Roquette e faltou-lhe apoio de lealdade. As pessoas que estavam com ele, estavam a trabalhar para outros grupos económicos. São conhecidas as ligações do atual presidente ao Grupo Espírito Santo. O Sporting hoje está amordaçado.

R - Já nos disse que se for presidente vai apostar numa fundação como fonte de receitas mas o que vai fazer ao passivo da SAD?
PSM - As dívidas são para ser honradas. Não basta negociar a dívida porque se não angariarmos receitas, não vamos a lado nenhum. O dinheiro é virtual, como se viu na atual crise, mas no caso do Sporting é bem real. São compromissos que passam por acordos.

R - O passivo não o assusta?
PSM - Assusta. O Sporting com esta história do aeroporto de Alcochete pode vir a ganhar muito dinheiro. Já tenho um estudo entregue nesse sentido. Se o Sporting quiser, mais tarde, ir para outro lado, terá uma mais-valia brutal.

R - Há pessoas que se aproveitam do Sporting?
PSM - O Sporting tem sido uma feira de vaidades, de pessoas que se põem em bicos dos pés para falarem do Sporting. Custa-me muito participar num jantar, como o da passada segunda-feira, do qual nada sai ou se sai é uma coisa sem pés nem cabeça. Ligaram-me para ir lá e fui. Senti que o dr. Dias da Cunha está preocupado e que quer arranjar uma candidatura.

R - Não acredita em Franco?
PSM - O seu projeto, que não existe, está esgotado. É incrível que as eleições sejam nesta altura e que toda a programação da próxima época seja feita por eles.

R - Fico com a ideia de que se Soares Franco avançar, essa será mais uma razão que o fará avançar a si...
PSM - Uma coisa é certa: não vou aceitar que deem cabo do Sporting Clube de Portugal, porque o Sporting não é uma coutada. É a hora de dizer basta. Chega. Vamos à luta. Se for necessário, avançarei.

R - Joaquim Oliveira manda no Sporting?
PSM - É uma das pessoas que manda, sim. E outros.

R - O Sporting vai precisar de uma injeção de capital?
PSM - Vai, entre 200 e 300 milhões de euros, no espaço de 2/3 anos e é possível.

R - Como?
PSM - O segredo é a alma do negócio.

R - Mas será com você e mais dez...
PSM - Não pode ser de outra maneira. Mas teremos de ter bons profissionais connosco. Se for eu, é para dar a cara, para ser solidário com treinador, jogador e sócios.

«Nani foi o único jogador bem vendido»

R - O Sporting tem conseguido mais-valias com os produtos da sua formação?
PSM - Não posso admitir que o Cristiano Ronaldo tenha sido vendido pelo preço que foi. O único jogador que foi bem vendido foi o Nani. Veja agora como estão as imagens do João Moutinho, do Yannick e do Miguel Veloso. Há alguma coisa que está a falhar. Não são só os jogadores que são os maus da fita. O Sporting tem de lutar sempre pelo título e jamais me esquecerei do que disse um dia Soares Franco, quando afirmou que o Benfica era maior que o Sporting. Para mim, não há nenhum clube maior que o Sporting. Não há sombra para dúvidas. Repare, o Sporting é Sporting Clube de Portugal, o Benfica e o FC Porto são clubes de uma cidade. E o Sporting não inventou uma data para a sua fundação. O Sporting sempre foi primeiro em tudo: teve a primeira equipa profissional ganhadora (os cinco violinos); as suas modalidades sempre foram as melhores; foi o primeiro clube a fechar o peão; foi o primeiro a fazer a SAD. E agora... é o marasmo. Até há quem diga que se quer acabar com os sócios do Sporting, para só existirem sócios da SAD. Mas a SAD é um instrumento do Sporting e não pode ser a SAD a instrumentalizar o Sporting. Não quero que o Sporting tenha amanhã um comprador como o Abramovich porque qualquer dia ele vai-se embora e o clube vai a pique. Quando acabarem com os sócios do Sporting, o clube deixará de existir! E isso é que é muito preocupante quando projetámos a próxima assembleia geral. Se as moções forem aprovados, não sei o que se pode fazer. A não ser que se faça um levantamento popular... E por estar muito preocupado com o que se passa é que estou a dar esta entrevista.

Porsche aos 19 anos

Pedro Sousa Moraes tem 51 anos e uma prole de seis filhos (dois deles apenas da mulher). Empresário com grandes tradições familiares na região centro (Tortosendo), tem atualmente interesses em Angola, no Brasil e também em Portugal. Com casa em Lisboa e na Costa de Caparica - onde na "casa do Robalo" se avista desde Sintra até ao Cabo da Roca -, foi durante sete anos presidente do núcleo sportinguista da localidade situada a sul do Tejo e assume-se como católico praticante.
É sócio do Sporting desde os 14 anos e integrou a lista de Sérgio Abrantes Mendes no último ato eleitoral leonino. Aos 19 anos já conduzia um Porsche e na sua juventude foi também praticante de remo e ginástica. O seu pai foi um conhecido médico da zona de Setúbal, mencionando o seu tio Rui Casola "como uma das grandes referências do Sporting", tal como Francisco Stromp, Reymão Nogueira e Aragão Pinto.

in http://www.record.pt/noticia.aspx?id=77652f4c-825f-4b3f-96a5-b3e61d755ec4&idCanal=00000024-0000-0000-0000-000000000024

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